"Eram dois corpos, um me estendia a mão enquanto o outro saltava pelo ar.
Um me ajudava nas tarefas diárias sem nada perguntar, unicamente com o intuito de ajudar e a melhorar o ambiente onde eu vivo. O outro somente me sorria e me provocava com sua beleza estonteante, com suas perfeições contornando seu corpo, mais parecia um moleque. Irradiava luz e encanto. Era visivelmente interessante.
Um era o novo que sem nada dizer, vivia amistosamente em meu meio, convivia comigo e com minhas roupas desbangueladas. Eu nem me importava. O outro era meu passado, aquilo que não se resolveu e que ainda me encantava cegamente.
E, num instante qualquer, do qual jamais esperaria, um me propõe comunhão de nossas almas e corpos. Aquele que estava a todo tempo comigo me questionou pela primeira vez um... “porque não?” e eu me pus a pensar...
O outro, estático estava diante da proposta do primeiro. Mas este, era mais próximo, mais homem e mais maduro, sendo então, tudo aquilo que eu precisaria. O outro, parecia lenda. Algo que nem existia mais, mas que ainda assim se fazia presente.
Aquele então, me estendeu sua mão com aquela expressão de “vem comigo?” e eu demorei-me a responder. Nem sei se queria, mas sabia que algo eu queria. Mas o quê?
_ Porquê não? _ eu respondi. _ Eu quero tentar.
E me entreguei em suas mãos pra onde ele me levou em algum lugar solitário, reservado, onde estaríamos somente os dois.
Pude ouvir a respiração ofegante do passado quando sentiu que eu desistiria dele. E eu, tonta, mesmo tendo escolhido, não sabia se era mesmo o que eu queria.
No meio de uma encruzilhada me encontrei. Me vi. Aborrecida e confusa. Não sabia para onde ir. Eu havia escolhido mas ainda assim algo dentro de mim me prendia ao passado que agora, resolvia se afastar.
Duas costas eu via enquanto tentava me decidir. Ambos partiam e mesmo que o passado ainda se exibisse pra mim, notei que eles tinham as mesmas vantagens, o passado não era melhor. E o de perto, me deixou escolher entre ele e o outro que brilhava e se exibia e que já estava contrariado por sentir minha confusão de ideias e coração.
Eu escolhi e logo vi o passado partir, insatisfeito. Não me importei, afinal, o quanto por ele esperei e quantas vezes ele me estendeu a mão me perguntando: “Porque não?” Vamos tentar? Vez alguma. Sua função era estar ali, me confundindo, me paralisando para que o futuro não viesse. Aquele que morava perto, que me via como sou, como sempre fui sem fantasias ou máscaras. Aquele que poderia me proporcionar a paz que busco em meu coração, o conforto do abraço e a segurança de suas mãos. É preciso escolher. Eu escolhi."
Esse texto foi escrito por mim numa manhã qualquer, após um sonho que tive.
Ambos tinham formas humanas mas eu sabia o que significavam e recebi o recado.
Os dois eram o presente e o passado, da forma como eu os via.
Um sempre ao meu lado, junto de tudo que eu fazia, o outro, só a me perturbar com seu encanto.
No sonho, mesmo confusa, eu escolhi o PRESENTE.
Porque o PASSADO não me liberta, só me prende, me enfeitiça e me destrói. Não me faz feliz.
Hoje, eu amanheci melhor. Amanheci disposta e certa de viver de mãos dadas com o PRESENTE e deixar, definitivamente, o PASSADO partir...