segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O ASSOBIO - A SAUDADE


Foi como se o tempo voltasse!
O assobio... Sim, eu ouvi um idêntico.
O assobio do meu pai. O mesmo que eu ouvia quando ele andava pelo quintal construindo coisas ou quebrando outras.
Lá, ele passava a maior parte de seu tempo e, junto a ele, o inesquecível assobio.
Eu ouvi alguém assobiar e com a melodia me vieram as lembranças e em consequência, a saudade.

Ah, a saudade...!

Como diz Clarice Lispector:
Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

Os tempos não voltam, por mais que se queira. A saudade sim, volta o tempo todo.
Quando você pensa que os anos se encarregaram de aliviar esse peso que carrega no peito, heis que ela reaparece, imensa, triunfante e cortante!

O que é sentir saudade?
É como se uma pequena ferida se instalasse em você pra sempre e, de quando em quando, ela insistisse em doer, em se abrir. Nunca se cicatriza.

É um lembrar constante, um sentir sem nada poder fazer, um buscar sem encontrar, uma ida sem volta, sem consolo, sem resposta.

É também uma sensação boa. Uma forma de se sentir o amor vivo dentro da gente.
Melhor ainda quando podemos abraçar e matar essa saudade.
Melhor ainda quando podemos encontrar aquele ou aquela que nos trouxe esse sentimento e poder enfim, cessá-lo no coração.

Triste quando isso não é possível. Não nesta vida.
No início, parece uma faca cortando nosso peito em idas e vindas incessantes, como se nunca parasse de nos cortar, de forma que o sangue pela dor nunca pare de jorrar.

Com o tempo, fica a boa sensação daquilo que se viveu, do abraço e do beijo que deu, das conversas que tiveram e dos sons e cheiros.

E foi Mário Quintana que disse que o tempo não pára... Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo.

E é uma verdade.

Hoje, quando ouvi o assobio semelhante ao do meu pai, depois dos 12 anos de seu desencarne, tive a nítida sensação de que tudo estava como antes e que ele ainda permanecia dando voltas pelo quintal...

É uma verdade.
O tempo não passa para aquele que sente saudade.

Um comentário: